Investigadores do ICVS/3Bs desenvolveram um novo modelo de ratinho transgénico da doença de Machado- Joseph e demonstraram um atraso da progressão da doença com o tratamento crónico com 17-DMAG
Investigadores do ICVS/3Bs desenvolveram um novo modelo de
ratinho transgénico da doença de Machado- Joseph e demonstraram um atraso da
progressão da doença com o tratamento crónico com 17-DMAG
Uma equipa de investigadores da Universidade do Minho liderada
pela Profª Patrícia Maciel publicou recentemente um artigo na revista
internacional Neurotherapeutics, descrevendo a caracterização de um novo modelo
de ratinho da doença de Machado-Joseph (DMJ), a ataxia espinocerebelosa mais
prevalente em todo o mundo, e que até agora permanece incurável. Este modelo
apresenta várias características semelhantes às da doença humana ao nível dos
sintomas neurológicos e das regiões do cérebro afectadas, o que até à data não
tinha sido observado num único modelo da doença, tornando-se assim uma
ferramenta valiosa para ensaios terapêuticos. As principais vantagens do modelo
CMVMJD135 são a ausência de morte prematura e a manifestação de sintomas
característicos da DMJ, incluindo perda acentuada da coordenação do movimento e
do equilíbrio, assim como perda de força muscular, que se inicia a partir dos 2
meses de idade progredindo ao longo do tempo. Estes ratinhos também apresentam
inclusões neuronais positivas para a ataxina-3 em diferentes regiões do
cérebro, incluindo os núcleos pônticos, núcleos reticulares laterais e núcleos
profundos do cerebelo. Neste trabalho, também foi demonstrado um atraso
importante na progressão da doença com o tratamento crónico com o fármaco 17-DMAG, actualmente em ensaios clínicos
(fase I) para tumores sólidos avançados, conduzindo a uma melhoria acentuada
dos sintomas e da neuropatologia. Adicionalmente, os investigadores analisaram
os mecanismos subjacentes a este efeito, mostrando que apesar de a expressão as
proteínas “chaperones” (“acompanhantes” de proteínas mal conformadas) no modelo
do ratinho CMVMJD135 não ter sido aumentada com o tratamento, o 17- DMAG é
eficaz através da indução de autofagia (mecanismo de auto-digestão parcial da
célula, que protege contra os agregados). Desta forma, os resultados deste
artigo confirmam que a modulação deste mecanismo celular pode ser relevante
para o tratamento desta doença e traduzem o potencial deste composto a nível
clinico.
Notas adicionais:
O 17-DMAG está em fase de ensaios clínicos em humanos (1ª fase
- determinação da segurança de utilização) mas não para este tipo de doenças,
antes para tratamento de alguns tipos de cancro.
- E quando irá passar para tratamento, disponibilizado nas
farmácias?
Não será uma passagem imediata para a clínica. Ainda não se
vende nas farmácias, nem se pode usar em doentes sem antes ser aprovado para
esse fim, o que só pode acontecer depois de serem realizados ensaios clínicos
em doentes com DMJ.
Por outro lado, este fármaco tem alguns efeitos laterais que
o tornam de difícil utilização em doenças neurodegenerativas crónicas como é o
caso da doença de Machado-Joseph, em que tem que se administrar o fármaco
durante muito tempo.
Por este motivo, os investigadores consideram que os nossos
resultados servem para comprovar que o “alvo” a que se dirige o fármaco é um
bom alvo a atingir, mas que se tem que melhorar as “armas” a utilizar, ou seja
desenvolver compostos com a mesma acção mas com menos efeitos secundários.
Felizmente, há já algumas empresas farmacêuticas a trabalhar neste sentido e o
grupo da UM está a trabalhar activamente com uma delas no sentido de testar
esses novos fármacos no modelo ratinho. Esta é uma situação afortunada, porque
é muito raro as empresas farmacêuticas manifestarem interesse nestas doenças raras,
que não representam uma grande mais-valia económica. Se os novos fármacos da
mesma família tiverem o mesmo efeito benéfico sem terem os efeitos secundários,
estarão em melhor posição para passarem a ser testados em humanos.
Entretanto, a equipa da UM continua também a estudar outras
possibilidades, nomeadamente com fármacos já considerados seguros para
utilização prolongada em humanos, cuja passagem para a clínica será mais fácil
(projecto suportado financeiramente pela APAHE, juntamente com a AtaxiaUK).
NOTA: A APAHE agradece à Dra. Patrícia Maciel, que
amavelmente redigiu este artigo.
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