Investigação descobre mutação-chave na ataxia recessiva
Foi descoberta uma mutação
num gene mitocondrial que causa doenças neurodegenerativas em moscas da fruta e
humanos
Por Victor Lam
A descoberta de uma mutação
que causa doenças neurodegenerativas em moscas da fruta e um conjunto de
fatores conhecido como ataxia recessiva em humanos, foi recentemente publicada
pelos investigadores no Instituto Neurológico de Montreal (Québec, Canadá), em
colaboração com o Colégio de Medicina Baylor (Texas, EUA). Um exemplar normal
do gene codifica uma parte vital da mitocôndria celular.
Isabelle Thiffault, que
atualmente trabalha a tempo inteiro num projeto de investigação de células
estaminais no Hospital Neurológico de Montreal, sentou-se com o Tribune para
discutir o trabalho.
Thiffault começou a
trabalhar no projeto em 2004, numa pequena província entre Trois-Rivères e
Québec City. Sabia-se que havia um defeito genético na população humana dessa
região, e que esse mesmo defeito era uma tendência comum no Québec.
A sua equipa iniciou
diferentes tipos de análises, numa amostra de 17 famílias.
“Analisámos um dos
cromossomas que tinha mais de 200 genes e começámos a procurar o gene que era
mais provável estar associado a doenças neurológicas,” disse Thiffault.
“Começámos a sequenciar esses genes, mas não descobrimos nada [no princípio].”
Após mais análises em 2006,
como Thiffault e a sua equipa descobriram e sequenciaram seis genes que
expressavam a mutação, veio uma grande surpresa dos investigadores do Colégio
de Medicina Baylor.
“Recebemos um telefonema
[deles] e disseram-nos que fizeram o mesmo tipo de análise que fizemos, mas na
Drosophila,” disse Thiffault.
As mutações descobertas nas
moscas da fruta, estavam codificadas para sintetase metionil-tRNA mitocondrial
(Aats-met). Esta mutação na mosca
da fruta leva a uma degeneração progressiva dos fotorrecetores nos olhos, tempo
de vida encurtado e proliferação celular reduzida.
Os investigadores do Colégio
de Medicina Baylor consultaram a literatura e descobriram que o fenótipo
associado a doenças neurodegenerativas em moscas da fruta, estava ligado àquela
região do genoma humano onde a versão humana do gene Aats-met, MARS2, estava
localizado.
“Foi mesmo no tempo exato,
porque estávamos a sequenciar o mesmo gene, ao mesmo tempo,” disse Thiffault.
De acordo com o artigo
publicado, o MARS2 é um gene humano homólogo, responsável por um tipo de doença
denominado ataxia, que causa a perda total de controlo dos movimentos
corporais. Este gene pode ser encontrado em algumas famílias franco-canadianas.
Atualmente, Thiffault está a
trabalhar na produção de culturas neurónicas a partir da pele de pacientes, de
maneira a encontrar uma explicação para a razão destes genes, que normalmente
estão expressos nos tecidos, terem um impacto em certos tipos de neurónios.
“Nós não percebemos porque é
esse gene tão importante na mitocôndria e apenas tem impacto no cérebro,
especialmente quando é requerida muita energia,” disse Thiffault. “Então ao
produzirmos estas culturas, poderemos testá-las diretamente, de maneira a
observarmos quais têm um impacto positivo no fenótipo.”
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