DMJ (Doença de Machado Joseph) Artigo elaborado por Drª Patricia Maciel para a APAHE


A doença de Machado-Joseph (DMJ), também conhecida como ataxia espinocerebelosa do tipo 3 (ou SCA 3), é uma doença neurodegenerativa autossómica dominante. Foi descrita pela primeira vez, na década de 70, em famílias luso-americanas de origem açoriana. Geralmente tem início na idade adulta, entre os 35 e 50 anos de vida, podendo surgir mais tarde ou mais cedo dependendo da gravidade da doença. O principal sintoma é a alteração do equilíbrio e da coordenação dos movimentos (ataxia), sem nunca afectar o intelecto. Com a evolução da doença, surgem sintomas como alterações na fala, dificuldades na deglutição, visão dupla e dificuldades a caminhar ou a realizar outros movimentos. É causada por uma alteração genética que leva a alterações estruturais na proteína ataxina-3, tornando-a tóxica para os neurónios. Até ao momento, não existe cura ou tratamento específico para a doença. Porém, os sintomas podem ser aliviados com acompanhamento de fisioterapeutas, psicólogos, neurologistas e outros profissionais de saúde com o objectivo de melhorar a qualidade de vida do paciente. O  diagnóstico da doença de Machado-Joseph é feito através de um teste genético molecular que permite não só confirmar o diagnóstico clínico mas também prever a ocorrência da doença em familiares de pessoas afectadas, mesmo antes de ela começar.

Patrícia Maciel, licenciada em Bioquímica e doutorada em Ciências Biomédicas – Genética, pela Universidade do Porto, tendo efectuado o seu trabalho de doutoramento na McGill University no Canadá, dedica-se ao estudo desta doença há 20 anos. É actualmente investigadora do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e da Saúde (ICVS), da Universidade do Minho, aonde lidera um grupo constituído por investigadores com áreas de formação variada envolvendo a Biologia, Bioquímica e as Ciências Farmacêuticas. O seu grupo tem como principais objectivos o desenvolvimento de estratégias terapêuticas para a DMJ, que são testadas em modelos animais criados pelo grupo, bem como o estudo da função normal da proteína ataxina-3 das vias celulares em que está envolvida.

No que diz respeito à proteína ataxina-3, pensa-se que através da sua actividade de hidrolase de ubiquitina, pode estar a modular a destruição (ou manutenção) de certas proteínas celulares. Além de identificar os alvos de acção da ataxina-3, o grupo pretende perceber como é que as interacções da ataxina-3 com os seus parceiros moleculares estão afectadas devido à mutação causadora da DMJ e se isto pode contribuir para a origem da doença, bem como avaliar concretamente de que forma a perda de função da ataxina-3 em neurónios contribui para a DMJ. Relativamente às abordagens terapêuticas, o grupo desenvolveu um modelo da DMJ inserindo o gene humano no nematode C.elegans, um verme com menos de 1mm com um sistema nervoso muito simples, mas muito bem caracterizado, no qual está a testar mais de 1000 compostos terapêuticos com o objectivo de identificar os que são capazes de reverter a doença neste organismo. Dos compostos mais relevantes são escolhidos potenciais candidatos que são testados num outro modelo, o ratinho transgénico de DMJ, também criado e desenvolvido pelo grupo, no sentido de testar fármacos capazes de reverter a doença. Muitos dos compostos que escolhem testar são actualmente usados na clínica para outro tipo de doenças, pelo que, se funcionarem nos modelos animais, poderão ser promissores para futuras terapias para a DMJ.

 
NOTA. A APAHE quer aqui deixar expresso o seu mais profundo e encarecido agradecimento à Dra. Patrícia Maciel, que teve a amabilidade de redigir este artigo para a APAHE.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Foi descoberto que as proteínas específicas e não-específicas, ligadas ao ARN, são fundamentalmente semelhantes

Ataxia cerebelosa, neuropatia e síndrome de arreflexia vestibular: uma doença lentamente progressiva com apresentação estereotipada