Descoberta revoluciona batalha contra doenças genéticas
Novo método promete transformar a forma como cientistas manipulam genes e pode eliminar problemas hereditários
MASSACHUSETTS - Uma descoberta que entusiasmou geneticistas no mundo promete revolucionar a manipulação do genoma de organismos vivos, incluindo humanos. A técnica tem sido vista como um marco da ciência porque pode transformar o tratamento de uma série de doenças, desde câncer e infecções incuráveis a problemas hereditários, como a anemia falciforme e a síndrome de Down.
Os cientistas fizeram alterações precisas no genoma por meio de um método chamado Crispr, que torna possível editar qualquer parte dos 23 pares de cromossomos humanos sem ter depois mutações inesperadas ou falhas. Eles esperam usá-la em breve em testes de terapia genética em humanos para tratar a infecção por vírus como o HIV ou distúrbios genéticos como a doença de Huntington. Num uso mais polêmico, ela poderia corrigir defeitos genéticos em embriões de fertilização in vitro (FIV). A atual engenharia é imprecisa e geralmente envolve vírus modificados que inserem o DNA no genoma.
- A Crispr é absolutamente formidável. É incrivelmente poderosa e tem muitas implicações para a agricultura e para uma potencial terapia genética em humanos - afirmou Craig Mello, da Escola Médica da Universidade de Massachusetts, que ganhou o Prêmio Nobel de Medicina pela descoberta da interferência do RNA. - É uma tremenda descoberta com grandes implicações para a genética molecular. É realmente de cair o queixo.
Além da engenharia genética de plantas e animais, podendo acelerar o desenvolvimento da pecuária e de sementes geneticamente modificadas, ela poderia alterar o DNA de esperma, óvulos e embriões, eliminando o risco de doenças genéticas até para as gerações subsequentes.
No entanto, a perspectiva dos chamados “bebês projetados” ainda provoca polêmica, e as técnicas para este tipo de manipulação estão proibidas em vários países, entre eles o Brasil. Mesmo assim, cientistas acreditam ser apenas uma questão de tempo até que elas sejam usadas com o objetivo de eliminar males hereditários.
- Seria difícil argumentar contra o seu uso se ela for segura, confiável e eficiente como parece ser. Quem condenaria uma criança a um terrível sofrimento e talvez à morte prematura quando há uma terapia capaz de reparar o problema? - questionou Dagan Wells, cientista especialista em FIV, da Universidade de Oxford.
O método Crispr foi descoberto inicialmente como parte da defesa imunológica natural de algumas bactérias contra vírus invasores. Só no ano passado que cientistas, liderados por Jennifer Doudna, da Universidade da Califórnia, publicaram um primeiro estudo mostrando que ele na verdade funciona em qualquer área de um genoma se associado a uma enzima de restrição (capaz de cortar uma molécula num local bem definido) chamada CAS9.
Desde então, várias equipes vêm mostrando que o sistema Crispr-CAS9 poderia ser adaptado para funcionar em uma série de outras formas de vida, de mosca da fruta a camundongos. No início deste ano, grupos de cientistas demonstraram que o sistema pode ainda ser usado com precisão para projetar o DNA de embriões de camundongos e de células-tronco humanas.
- A eficiência e a facilidade do seu uso não têm precedentes. Estou entusiasmado - disse George Church, geneticista da Universidade de Harvard e coordenador do grupo que usou o Crispr para modificar o genoma humano.
David Adams, geneticista do Instituto Wellcome Trust Sanger, em Cambridge, também celebrou a nova técnica.
- Tivemos outras tecnologias para a manipulação do genoma, mas todas deixam uma ‘cicatriz’ ou um DNA estranho no genoma. Esta não deixa cicatrizes e torna possível editar os nucleotídeos do DNA, as ‘letras’ do livro genético, sem quaisquer outras alterações indesejadas - apontou.
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