Doentes com ataxia cerebelar que efectuam transplante de medula óssea, alcançam melhorias


Cientistas do Instituto de Neurociência de Castela e Leão da Universidade de Salamanca (Espanha) identificaram que, em ratos que foram submetidos a um transplante de medula óssea, esse mesmo transplante permite a recuperação de algumas funções daqueles que padecem de ataxia cerebelar, uma doença na qual tanto os animais, como os seres humanos, se vêem impedidos de controlar os próprios movimentos.
O rato utilizado como modelo nesta investigação é chamado de Degeneração Celular Purkinje (PCD – Purkinje Cell Degeneration), e é caracterizado pela degeneração das células Purkinje, um tipo de neurónios envolvido no controle dos movimentos de rotina que já foram aprendidos e automatizados, como a postura, a escrita ou a condução.

Todas elas estão localizadas no cerebelo e é por isso que, se elas morrem, emerge a patologia conhecida como ataxia cerebelar, explica o investigador Eduardo Weruaga, autor do estudo, em declarações recolhidas pelo serviço de informação e notícias científicas (SINC).
No caso dos ratos modificados a que falta o gene Nna1, as células Purkinje começam a desaparecer quando o animal já tem entre 30 e 50 dias de vida.

“A função deste gene não é muito conhecida, mas quando a sua falta ocorre, a reorganização dos núcleos celulares e defeitos na reparação do ADN, as células nervosas são carregadas com demasiados defeitos e morrem”, diz o cientista.
Nos roedores, a perda das células Purkinje traduz-se em dificuldades em andar, tremores, quedas, incapacidade para andar e perda de peso. Finalmente, estes animais acabavam por morrer muito mais cedo que roedores saudáveis.

A hipótese defendida pelos investigadores do Instituto de Neurociência de Castela e Leão era de que o transplante de medula óssea pode ter efeitos na ataxia cerebelar neste rato-modelo com PCD.
“Desde a década de 90 do século passado que sabemos, naturalmente, que algumas células da medula óssea viajam para o cérebro e são neurónios e ‘glia’”, indica Weruaga, “embora reconhecendo que este facto científico não seja muito conhecido, a partir da medula óssea normalmente formam-se células sanguíneas, transplantando assim uma forma de cancro medular. Contudo, algumas dessas células também são o fígado, músculos e cérebro, embora muito poucas.”

COMPORTAMENTO DIFERENTE, DE ACORDO COM A LOCALIZAÇÃO
Até agora não se sabia se estas células da medula óssea iam para o cérebro e lá se diferenciavam, tornando-se neurónios, ou se se fundiam com as células existentes. “Descobrimos que depende da área do cérebro: nalguns sítios diferenciam-se, noutros fundem-se.” “No cerebelo fundem-se com as células Purkinje, formando células com duas cores, enquanto que no bolbo olfáctico, elas diferenciam-se”, diz o cientista.

A questão que se tornou mais relevante para os investigadores foi se o transplante de medula óssea podia recuperar células Purkinje para restaurar as funções que os ratos com ataxia tinham perdido. Para responder a essa questão, os movimentos dos roedores podem ser medidos em laboratório como um método para diagnosticar a ataxia e, subsequentemente, controlar os efeitos de possíveis tratamentos.
Um desses testes consiste na análise da planta marcada, ou seja, colocar tinta nos ratos, para que se possa avaliar a forma como andam. Testes de velocidade são outro aspecto chave, já que um animal com ataxia leva muito tempo para percorrer distâncias curtas.

Outro teste consiste na medição de aspectos psicomotores similares e permite aos investigadores concluírem se os ratos têm as suas capacidades motoras comprometidas ou não, através da comparação entre animais saudáveis, animais doentes e animais que foram submetidos a um transplante de medula óssea.
RECUPERAÇÃO PARCIAL

Os resultados indicam que há uma “melhoria significativa” após os transplantes. “A medula saudável recupera alguma parte da funcionalidade do cerebelo”, diz o investigador. Contudo “os roedores não alcançam as velocidades originais, apresentando um progresso a meio-termo entre um rato saudável e um rato doente, assim como falta de coordenação em alguns movimentos, que não estão completamente curados”, ele acrescenta.
Outro aspecto também relevante é “não se ter observado uma recuperação das células Purkinje, pelo que a questão que agora se levanta é de que maneira o transplante pode ajudar o rato a reconquistar a funcionalidade do cerebelo”, indica Weruaga.

De facto, um dos desafios para o grupo de investigadores no futuro imediato, é melhorar os transplantes. “Até agora, plantámos todo o tipo de células na medula óssea, nós não fazemos distinções entre linhas ‘hematopoieticas’”, diz ele.
Para fazer isto, em colaboração com o Serviço de Hematologia do Hospital Universitário de Salamanca, aos investigadores do Instituto de Neurociência de Castela e Leão foi proposto “separar tipos de células e implementar mais uma ou outra para alcançar os melhores resultados, quer dum ponto de vista histológico, assim como funcional.”

Fonte: http://health-med-news.com/health/bone-marrow-transplantation-achieved-improvements-in-mice-with-cerebellar-ataxia/

Comentários

  1. Fui diagnosticada com ataxia e gostaria de obter informações sobre transplante com a célula tronco, se haverá melhoras, se é possível o tranplante, etc.
    meu e-mail é: leili_barros@hotmail.com

    Obrigada

    Leiliane Barros

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