Europa aposta forte na computação
O i inicia hoje a publicação de uma coluna semanal de
docentes do Instituto Superior Técnico sobre temas da actualidade de Ciência e
Tecnologia. Começa hoje o presidente do Técnico
Numa declaração assinada no passado mês de Março, integrada
nas comemorações dos 60 anos do tratado de Roma, sete países europeus, entre os
quais Portugal, assinaram uma declaração que define como objectivo que a União
Europeia venha a ter dois dos supercomputadores mais poderosos do mundo em
2023.
Os supercomputadores são usados, principalmente, para simular
sistemas físicos complexos e para processar grandes volumes de informação.
Investigadores do IST, assim como de outras universidades portuguesas, têm
utilizado regularmente alguns dos grandes supercomputadores mundiais para
estudar diversos fenómenos físicos de grande importância científica. Entre os
fenómenos estudados estão a simulação de ondas gravíticas (previstas por
Einstein e só recentemente detectadas), a interação entre plasmas e lasers (com
muitas aplicações em energia e saúde), o comportamento de sais em estado
líquido (importantes para a tecnologia de baterias), o estudo do escoamento de
fluidos turbulentos (com aplicações no projecto de veículos) e a análise dos
resultados das colisões de partículas efectuadas no CERN (que levou à
descoberta do Bosão de Higgs).
Estas actividades dos cientistas portugueses justificam a
razão pela qual Portugal foi um dos sete países a assinar a declaração, em
conjunto com a Alemanha, França, Itália, Espanha, Holanda e Luxemburgo.
Atualmente, nenhum dos dez computadores mais poderosos do mundo está em países
da União Europeia, embora um deles esteja na Suíça. Os outros nove estão na
China, Estados Unidos e Japão. A iniciativa europeia em computação de elevado
desempenho (High Performance Computing) pretende recolocar a União Europeia no
grupo de países que controla os computadores mais poderosos do mundo
desenvolvendo, até 2023, dois supercomputadores (exascale machines), mais de
dez vezes mais poderosos que os atualmente existentes, cada um deles com a
capacidade de executar um trilião de operações por segundo, ou seja, 10 elevado
a 18 (um 1 seguido de 18 zeros) operações por segundo.
Para além das aplicações científicas, os supercomputadores
permitem que empresas e instituições possam inovar de forma mais competitiva,
projectando sistemas mais eficientes, seguros e eficazes. As aplicações da
supercomputação são muitos vastas, e incluem a simulação de modelos climáticos,
a observação da Terra, o projecto de novos veículos energeticamente eficientes,
a simulação de novas formas de produzir energia e o estudo e projecto de novos
materiais.
Uma das aplicações mais desafiantes é a modelação e simulação
do funcionamento do cérebro humano. Num projecto europeu em curso, de grande
dimensão, o Human Brain Project (em que Portugal também participa), pretende-se
exactamente modelar e simular, com precisão, partes significativas de cérebros
animais e humanos, o que permitirá ajudar a perceber como se desenvolvem as
doenças neurodegenerativas. Subsistemas com mais de uma dezena de milhar de
neurónios foram já simulados neste projecto, usando para tal o supercomputador
que existe na Suíça. Estima-se que o cérebro humano tenha aproximadamente 100
mil milhões de neurónios, cada um deles ligado a milhares de outros neurónios,
através de sinapses. O número de sinapses num cérebro humano é assim estimado
ser da ordem dos 1000 biliões, aproximadamente um 1 seguido de 15 zeros. É usual,
por isso, dizer-se que o cérebro humano é tão complexo que nunca poderá ser
compreendido. Porém, uma máquina exascale poderá usar mais de 1000 operações
por segundo para simular cada sinapse dum cérebro humano, o que significa que
terá, em princípio, capacidade suficiente para fazer a simulação em tempo real,
usando modelos adequados. Porém, passarão ainda muitos anos até que possamos
ter modelos suficientemente precisos do cérebro humano para que tal simulação
possa ser fidedigna e útil para a ciência.
Professor do Departamento de Eng. Informática do IST
Presidente do Instituto Superior Técnico
Fonte: https://ionline.sapo.pt/artigo/560996/-europa-aposta-forte-na-computacao
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