PACIENTES E CIENTISTAS UNEM FORÇAS PARA COMBATER A ATAXIA DE FRIEDREICH

Pacientes e respetivas famílias uniram-se numa única plataforma, duas associações de doentes e dois centros de investigação biomédica uniram forças na luta contra esta doença neurológica hereditária para a qual ainda não há cura.
Cientistas do "Centro de Biologia Molecular Severo Ochoa" em Madrid e IRB Barcelona desenvolvem um projeto de terapia genética que envolve introduzir nas células do corpo, uma cópia correta do gene defeituoso que provoca a doença.
A ataxia de Friedreich afeta aproximadamente 2 em cada 100.000 pessoas de origem europeia (caucasianos). Em Espanha a incidência desta doença é maior, com um número estimado de 4.7 casos por 100.000 habitantes.

A Federação Espanhola de Ataxia (FEDAES) — em representação da Plataforma GENEFA, para a cura da ataxia de Friedreich —, a associação BabelFAmily para a investigação biomédica na ataxia de Friedreich, o "Centro de Biologia Molecular Severo Ochoa" (CMBSO) e o Instituto de Investigação em Biomedicina (IRB Barcelona) assinaram um acordo através do qual estas associações de doentes financiará, por meio de doações, um projeto de pesquisa de 3 anos, abordando a ataxia de Friedreich.
A ataxia de Friedreich é uma doença degenerativa rara do sistema nervoso que afeta a coordenação, equilíbrio e movimento. É uma doença monogénica, ou seja, é causada por um defeito num único gene. Aqueles que são afetados por esta doença, herdaram o gene frataxina alterado de ambos os pais. O projeto tem como objetivo desenvolver ferramentas moleculares para transportar uma cópia correta do gene defeituoso para todas as células do corpo e particularmente para um tipo de neurónio que sofre degeneração e causa a doença. Esta abordagem visa restaurar os níveis normais de frataxina e impedir a manifestação dos sintomas degenerativos da doença.
A Plataforma GENEFA lidera a campanha de angariação de fundos, que visa recolher os 300.000 euros necessários para desenvolver este projeto de terapia genética. Juan Carlos Baiges, em representação da FEDAES/GENEFA e BabelFAmily para este projeto, expressa o seu entusiasmo, "é o primeiro passo no sentido de alcançar um tratamento eficaz, com base no conhecimento de investigação básica sólida", e acrescenta: "temos um projeto motivador em frente que pode levar-nos mais perto dum tratamento."
Ernest Giralt, no IRB Barcelona e Javier Díaz-Nido, no CBMSO, co-líderes científicos do projeto, salientam que, "é incomum para os investigadores básicos ter contato direto com os pacientes e este projeto é fantástico, porque nos lembra que as soluções para doenças derivam de investigação básica, a pedra angular de aplicações futuras."

Um único gene alterado
O médico alemão Nicholas Friedreich descreveu a doença pela primeira vez em torno de 1860. A ataxia de Friedreich é uma doença que afeta o sistema nervoso e para a qual não há cura ou tratamentos específicos. Apesar de a ataxia de Friedreich ser o tipo de ataxia mais comum, é uma doença rara. Afeta aproximadamente 2 em cada 100.000 pessoas de origem europeia (caucasianos). Em Espanha e França, a incidência desta doença é mais elevada, com uma prevalência de 4,7 casos por cada 100.000 habitantes, sugerindo que esta doença provavelmente teve origem na área geográfica da Cordilheira Cantábrica.
A ataxia de Friedreich normalmente aparece antes das idades de 5 e 25 anos, causando a perda progressiva do equilíbrio, coordenação e movimento. Cerca de dez anos após o aparecimento dos primeiros sintomas, os afetados geralmente ficam confinados a uma cadeira de rodas. A espectativa de vida é severamente reduzida, sobretudo quando há complicações secundárias sérias, tais como a cardiomiopatia progressiva.

Restaurando o gene frataxina através de terapia genética
Em 1996, um grupo internacional de cientistas identificou a causa da ataxia de Friedreich como um defeito num gene que codifica a proteína frataxina, localizado no cromossoma 9. Uma das estratégias mais promissoras para corrigir os baixos níveis celulares desta proteína é através da terapia genética, tentando introduzir uma cópia correta do gene no núcleo celular.
"Isolámos completamente o gene e colocámo-lo em vetores de transporte ou "veículos" e testámos a sua eficácia em células in vitro de pacientes. Agora temos que melhorar o transporte para as células do sistema nervoso e testar a sua eficácia em ratos com ataxia," explica Javier Díaz-Nido, chefe do grupo "Reparação Neuronal e Terapia Molecular na Neurodegeneração. Ataxias Espinocerebelares" no CBMSO, um centro formado pela "Universidade Autónoma de Madrid" e o CSIC e que também é membro do Centro da Rede de Investigação Biomédica sobre Doenças Raras (CIBERER).
O médico Díaz-Nido é uma autoridade mundial em ataxias, tendo dedicado mais de dez anos ao estudo da ataxia de Friedreich a nível molecular e desenvolvendo técnicas para fazer a terapia genética uma realidade. "Nos últimos dez anos assistimos a grandes avanços na terapia genética, graças às contribuições de centenas de cientistas em todo o mundo. O último passo está ainda pendente, para que se possa tornar uma opção clínica, mas começamos a prever que a terapia genética será possível para o tratamento de doenças de origem genética," mantém Díaz-Nido.

Superar a barreira do cérebro
O cérebro é protegido por uma barreira hemato-encefálica. Esta barreira serve para impedir a entrada no cérebro de substâncias tóxicas, mas também obstrui a entrada de drogas terapêuticas. Neste respeito, a colaboração com Ernest Giralt é crítica. O Prof. Giralt, chefe do grupo "Design, Síntese e Estrutura de Peptídeos e Proteínas" e coordenador do Programa de Farmacologia Molecular e Química no IRB Barcelona, tem uma vasta experiência e os seus conhecimentos em sistemas de entrega de medicamentos e química de peptídeos é reconhecida internacionalmente. O seu laboratório tem gerado e testado satisfatoriamente um conjunto de peptídeos de transporte capazes de atravessar a barreira hemato-encefálica. "O nosso principal objetivo é adaptar o nosso serviço de transporte para os vetores que carregam o gene frataxina para habilitá-los cruzar a barreira hemato-encefálica e, em seguida, inserir os núcleos celulares do sistema nervoso," explica Meritxell Teixidó, investigador associado no IRB Barcelona e responsável por esta linha de investigação.
O projeto de investigação conjunta começou em Novembro de 2013 e vai durar três anos. Durante este tempo, a equipa de cientistas espera preparar a prova do conceito que permitirá o salto da pesquisa básica de laboratório para ensaios pré-clínicos em modelos animais mais sofisticados e avanço em direção uma terapia genética para a ataxia de Friedreich.



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