Devemos refletir sobre o porquê da Inglaterra se atrasar no acesso aos medicamentos para doenças raras
8 de Maio de 2017
Por:
É crucial que desenvolvamos um
processo sob medida para avaliar os medicamentos órfãos se quisermos erradicar
a desigualdade no acesso, dentro do sistema, diz Sebastian Stachowiak[i].
Uma em cada 17 pessoas será
afetada por uma doença rara em algum momento das suas vidas. Esta é uma
condição muitas vezes debilitante e com risco de morte, afetando principalmente
as crianças. Enquanto que apenas 5 por cento das doenças raras têm uma opção de
tratamento licenciada, graças a uma combinação de legislação europeia
introduzida em 2000 e aos esforços em curso dos investigadores, um número
crescente de medicamentos para doenças raras estão a ser licenciados a cada
ano.
No entanto, aceder regularmente a
estes medicamentos na Inglaterra está se tornando cada vez mais difícil. De
acordo com a análise realizada pelo Office of Health Economics Consulting
(Consultores de Saúde e Economia), requerido pela Shire, mostrou que a
Inglaterra fica para trás face aos seus parceiros europeus na velocidade e
amplitude de reembolso dos medicamentos de doenças raras.
De todos os medicamentos órfãos
(usados para tratar doenças raras) licenciados pela EMA entre 2001 e 2016, apenas
47% são reembolsados para uso regular na Inglaterra, contra 81% na França e 93%
na Alemanha.
Quando um medicamento é aprovado
na Inglaterra, a média de espera por uma decisão de apoio por parte da EMA é de
28 meses, em comparação com os 21 meses da França e com a quase imediata aprovação
na Alemanha. Isto claramente não é bom o suficiente para os pacientes de
doenças raras e suas famílias, que já enfrentam desafios suficientemente
esmagadores.
Absolutamente crítico
Estas descobertas foram
recentemente exibidas no nosso relatório “Equity and Access” (Equidade no Acesso),
apresentado na Conferência de Doenças Raras da Shire, que reuniu líderes nesta
área para, conjuntamente, discutirem como poderiam ser abordadas coletivamente
essas questões.
Conforme descrito no nosso
relatório, existem várias razões pelas quais os medicamentos órfãos não podem
ser tratados como medicamentos utilizados para tratar condições mais comuns. Tipologias
altamente diversificadas e pequenas amostras de pacientes limitam os ensaios
clínicos possíveis, e as medidas padrão são inadequadas para essas populações.
Consequentemente, as grandes desigualdades acima referidas são causadas quando
os medicamentos órfãos são avaliados por métodos de avaliação concebidos para
condições mais comuns, tais como a avaliação única de tecnologia NICE, apesar das
diferenças fundamentais na sua natureza.
É absolutamente crítico que o NHS
(Serviço Nacional de Saúde), os grupos de pacientes, a indústria e as partes
interessadas mais amplas se unam para desenvolver um processo sob medida e
adequado para avaliar os medicamentos órfãos.
A maioria dos medicamentos órfãos
não se qualificam para a avaliação de tecnologia altamente especializada (HST)
da NICE, uma vez que excedem ligeiramente o número de pacientes ou porque são
tratados em demasiados centros. Contudo, dadas as recentes reformas restritivas
implementadas devido ao custo deste processo, mesmo os medicamentos avaliados
através deste processo não são suscetíveis de serem utilizados pelos doentes no
futuro.
Assim sendo, e como descrito no
nosso relatório “Equity and Access” (Equidade no Acesso), é absolutamente
crítico que o NHS, os grupos de pacientes, a indústria e as partes interessadas
mais amplas se unam para desenvolver um processo sob medida e adequado para
avaliar os medicamentos órfãos. O estabelecimento de uma nova Unidade Comercial
Estratégica no NHS de Inglaterra, em conjunto com o compromisso ultrapassado de
produzir um plano de implementação para a Estratégia de Doenças Raras do Reino
Unido, proporciona uma oportunidade para conseguir isso.
Se nós, como uma comunidade de
doenças raras não conseguimos fazer progressos nesta área, arriscamo-nos a não
sermos capaz de cumprir a ambição da estratégia de doenças raras de garantir
que "ninguém fica para trás apenas porque têm uma doença rara".
[i] Sebastian
Stachowiak é Diretor-Geral da Shire UK
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