A diversidade sobe à passarela com orgulho
A Semana da Moda de Navarra
2015 apresentou um desfile pioneiro com modelos com deficiência e roupas
adaptadas à diversidade funcional
"Este desfile é um
passo importante para uma sociedade inclusiva."
O mundo da moda está a mudar,
libertando-se lentamente dos rigorosos estereótipos que o dominam. A atriz
Jamie Brewer, o primeiro modelo adulto com síndrome de Down, foi contratada
para dar um rosto a este movimento que se está a tornar cada vez mais forte e
que já chegou a Pamplona (Espanha).
Este ano, a empresa
responsável por abrir os desfiles da Semana de Moda de Navarra é a Tdotex, que
fabrica "roupas fáceis de usar para as pessoas do século XXI", em
especial para as pessoas com deficiência. Mas não estarão sozinhos, já que
contam com a participação de alguns modelos muito especiais, sete sócios da
Associação Ibili e dois da Fundácion Induráin. A iniciativa é pioneira no país,
pois "nunca foi apresentada uma coleção de roupa adaptada numa Semana da Moda".
A ideia partiu da própria
organização da Semana da Moda de Navarra e contou, desde o primeiro momento,
com o apoio da associação Ibili. "Para nós é uma grande oportunidade,
aparecer numa montra em que a diversidade funcional nunca teve espaço. Queremos
mostrar que a diversidade funcional não é incompatível com a moda", diz
Dani Garcia, coordenador Ibili (que trabalham na área da deficiência física).
E, como diz Garcia, "as pessoas com deficiência devem ser capazes de se
verem refletidas nas roupas apresentadas nas passarelas, devem ser capazes de
dizer: 'Eu gosto dessa roupa, e não é só gostar, acho que me pode ficar bem'. Têm
que se identificar com a roupa, acreditar que também a podem comprar."
Desta forma, adaptando a
roupa às necessidades de cada utilizador, pretende-se fornecer autonomia e
autoestima às pessoas com deficiência e evitar que algo tão rotineiro como o
vestir possa se transformar num "trauma".
Além disso, essas adaptações
não só representam uma melhoria para o utilizador, mas também o são para o seu
assistente. "Com este tipo de roupa é mais fácil ajudá-los a vestirem-se.
E ainda por cima sem dor nas costas", diz com um sorriso Ernest Campos,
voluntário da Ibili.
Para Miguel Olarte, estilista
da Tdotex, esta experiência tem sido um desafio. "Este trabalho representa
um duplo benefício: por um lado faço o que gosto, que é o desenho, por outro,
faço algo para ajudar os outros. Sem o ter apresentado, já algumas pessoas me
disseram que querem comprar", disse Olarte.
A criação desta coleção tem
sido um exercício contínuo de criatividade para Miguel, porque "tem que se
adaptar cada peça de roupa a cada pessoa e às suas necessidades. A ideia
inicial não tem nada a ver com o resultado, houve momentos em que fazíamos algo
e ao experimentarmos, víamos que não funcionava."
Os protagonistas
"Faz-me muito feliz em participar neste evento, para mim é uma forma de
mostrar que a diversidade funcional não é incompatível com a elegância e as
tendências", diz María Jesús Marcos Barbarin, um dos modelos do desfile.
Além disso, María Jesús não pode evitar um sorriso de alegria perante o
pensamento de ir para participar num desfile de moda, "algo que nunca
tinha imaginado."
Ao fazer compras, María Jesús
e as pessoas com deficiência enfrentam uma série de problemas. "Primeiro, a
roupa adaptada está sempre cheia de caixas. Então tem que pedir para vagarem ou
ir a outro, que são pequenos e nem tem um lugar para se sentar", disse María
Jesús. Além disso, "preciso de ajuda para ir às compras, o que restringe a
liberdade". Por outro lado, encontrar roupas para o dia o dia é
relativamente fácil no caso de María Jesús. "Eu não me sinto confortável
com vestidos. Então eu prefiro usar calças, têm mais opções e sabes que, quer
te custe mais ou menos, vais encontrar algo. Mas se procuras algo mais elegante.
é mais difícil de encontrar ", diz ela. No entanto, ao participar no
desfile cada um tem sua própria motivação. Para Mikel Vidaurre a moda não é
algo a que preste muita atenção, mas, no entanto, participar nesta iniciativa é
muito importante para ele. "Se alguém começa a nos apoiar ... como é que dizemos
não? Isto não é o que mais me entusiasma, mas colaboro", explica Mikel,
que ficou encantado com as calças que Miguel tinha desenhado e uma camisa com
botões substituídos por ímãs. "Para alguém com mobilidade reduzida nas
mãos, como eu, isso é ótimo. Aproximamos as extremidades e, zás!, já está abotoada",
diz Mikel enquanto faz o gesto. Como Mikel, Alberto del Pozo não é apaixonado
por moda. "Esta reputação tem me pegou um pouco tarde", brinca
Alberto. No entanto, apesar de tudo, ele admite que não falta muito para
convencê-lo.
No entanto, Carmen Aguirre
está mais interessada em moda. "Este é um passo importante para a inclusão
social. Somos todos cidadãos, mas alguns não têm acesso a essas áreas.
Portanto, é importante que um estilista possa combinar estética com
funcionalidade", disse Carmen, que quis salientar que esta iniciativa pode
ser alargada a outros domínios como a arquitetura.
“O ideal seria que quando um
estilista desenha uma peça de roupa, inclua algumas modificações para se poder
adaptar a todo o tipo de pessoas, sejam tamanhos maiores ou diversidade
funcional", diz Carmen.
No final, parece que esta
coleção tem sido tão bem sucedida que já há quem pergunte para quando o fato e
os calções de banho.
Navarra – província
espanhola
Ibili – Associação de
Deficientes Físicos de Navarra
Fundácion (Miguel) Induráin
– Fundação que apoia e promove o desporto de alto rendimento
(artigo traduzido)
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