Merck (Kenilworth, NJ, EUA) investe 55 milhões de dólares na RaNA Therapeutics (Cambridge, MA, EUA), tentando avançar com medicamentos baseados no ARN
A empresa Merck & Co
aparentemente ficou animada com a perspetiva de desbravar terreno com novas
terapias baseadas no ARN.
A MRL Ventures, uma empresa
afiliada da Merck dedicada ao investimento biotecnológico, concordou em se
juntar ao grupo Baupost com um investimento de 55 milhões de dólares na empresa
baseada em Cambridge, Massachusetts (EUA), RaNA Therapeutics. Isto incluiu um
punhado de investidores que normalmente se concentram em empresas públicas –
Rock Springs Capital Management (EUA), Brookside Capital (EUA), e Leerink
Partners (EUA). Os investidores anteriores, tais como a Atlas Venture (EUA), a
SR One (EUA) do grupo GlaxoSmithKline, a Pfizer Venture Investments (EUA) e a
Monsanto (EUA), todos continuaram após terem participado, em janeiro de 2012,
no resultado de 20,7 milhões de dólares.
A RaNA Therapeutics planeia
usar o dinheiro para desenvolver ainda mais a tecnologia que tem como alvo
longos trechos de ARN que não contêm código para produção de proteínas, mas que
contêm códigos que regulam o modo como as proteínas relacionadas com a doença
são expressas. Embora muitas terapias baseados no ARN em desenvolvimento envolvam
desligar proteínas relacionadas com a doença através do que é chamada
interferência de ARN (uma área onde a Merck não foi muito longe), A RaNA toma o
rumo oposto. Destina-se a marcar-se a transcrição do ARN, que produz
determinadas proteínas desejáveis. A GlaxoSmithKline mostrou recentemente interesse
neste território biológico menos explorado, que alguns chamam de "matéria
escura" do genoma, através de um investimento de 95 milhões de dólares num
instituto de investigação sem fins lucrativos chamado Instituto Altius para as Ciências
Biomédicas (EUA). Enquanto que esse trabalho ganhou destaque, as grandes
farmacêuticas têm mostrado interesse nas regiões do ARN 'não codificantes' há
já alguns anos.
"Estou extremamente
animado sobre a RaNA e o progresso que tem feito desde que começámos",
disse Brian Gallagher, Jr., sócio da SR One, do grupo GlaxoSmithKline. "É
uma tecnologia extremamente inovadora, com um enorme potencial para o
tratamento de doenças utilizando a abordagem do seu novo ganho de funções."
Enquanto que a RaNA é uma
das poucas empresas que se pensa estarem ativamente desenvolvendo medicamentos
que operam contra longos trechos não-codificantes de ARN (ver este resumo
detalhado em Timmerman Report), que não é a sua única grande ideia. A RaNA
expandiu seu repertório através do desenvolvimento de tecnologia para
estabilizar moléculas do ARN mensageiro na corrente sanguínea para que elas se possam
tornar, elas próprias, medicamentos. A ideia de injetar mARNs no corpo para que
possam atuar como pequenas fábricas de medicamentos produtoras de proteínas, ou
seletivamente elevar a expressão de certas proteínas, cativou a imaginação dos
fabricantes de medicamentos, incluindo a Merck. Antes de investir na RaNA, investiu
100 milhões de dólares na Moderna Therapeutics (EUA) em janeiro.
Um dos grandes desafios é
fazer com que mARNs possam se traduzidos em proteínas que podem executar uma
função biológica antes de ser feitos em pedaços pelo sistema imunológico. Este
trabalho ainda está nos estágios iniciais de investigação e desenvolvimento, ou
seja, é um longo caminho até ser testado em seres humanos. A RaNA, que tem
cerca de 25 funcionários, está a trabalhar para otimizar os seus medicamentos candidatos
para que eles possam estar prontos para os tipos de estudos com animais
necessários para preparar o caminho para ensaios clínicos.
Mas os estudos em humanos
estão à vista. O foco inicial da empresa está no desenvolvimento de
medicamentos para a atrofia muscular espinhal (uma doença genética de controlo
muscular) e ataxia de Friedreich (uma doença neurodegenerativa genética). O
objetivo da RaNA é trazer dois novos candidatos a fármacos para ensaios
clínicos em 2017, disse o CEO Ron Renaud.
Durante os seus primeiros
dias, a RaNA tem concentrado em algumas regiões reguladoras específicas, mais
notavelmente o Polycomb repressivo complexo 2, ou PRC2. Através da criação de
uma pequena molécula de oligonucleótido sintético para bloquear a atividade
repressora da PRC2, a RaNA espera que possa aumentar a quantidade de ARN
transcrito a partir de um gene relacionado chamado SMN2. Se ARN suficiente ficar
transcrito a partir desse gene, e se se fizerem cópias funcionais suficientes
da proteína SMN2, então os investigadores acreditam que podem reduzir os sintomas
da atrofia muscular espinhal. Outros investigadores têm publicado trabalhos
sobre o papel do complexo PRC2 na disseminação do cancro.
Os pacientes com ataxia de
Freidreich têm mutações genéticas que limitam a sua capacidade de produzir
frataxina, uma proteína que ajuda a mover ferro e funções nas mitocôndrias, as
fábricas de energia, da célula. A crença da RaNA é que pode estabilizar o ARNm
para a frataxina, pelo menos o suficiente para que o suficiente da proteína
essencial seja produzida, e que não se degrade muito rapidamente.
A empresa tem um pouco mais
acontecendo, que não discute publicamente. Tem mantido os eus advogados ocupados,
com a apresentação de 120 pedidos de patentes cobrindo sequências específicas
de ácidos nucleicos, bem como métodos tecnológicos e composições de matéria
para candidatos a fármacos. Mais de 70 genes-alvo diferentes são cobertos pelas
suas declarações de propriedade intelectual - mais do que pode desenvolver
praticamente de uma só vez, especialmente sem quaisquer colaboradores da Big
Pharma para ajudar. Mesmo 55 milhões de dólares não são suficientes para
avançar simultaneamente em todas as frentes. "Temos que priorizar",
disse Renaud.
Muitos concorrentes têm
outras ideias sobre como abordar ambas as doenças, e muitas estão ainda a ser
testadas. A Biogen (EUA) e a Isis Pharmaceuticals (EUA) têm um programa para a
atrofia muscular espinhal em ensaios clínicos, assim como a Roche (Suíça) e a
PTC Therapeutics (EUA), além da Novartis (Suíça). A Edison Pharmaceuticals (EUA)
tem um fármaco candidato em ensaios de fase intermédia para a ataxia de
Freidreich.
Mesmo enquanto a biotecnologia
está em pleno desenvolvimento, atraindo um fluxo de recém-chegados, ainda é um
mundo pequeno, construído com base em relacionamentos de longo prazo. Renaud,
que anteriormente foi CEO da Idenix Pharmaceuticals (EUA), conhece a equipa
Merck muito bem - ele vendeu a Idenix à Merck no ano passado 3,9 biliões de
dólares. O outro investidor, o Grupo Baupost (EUA), foi um grande investidor na
Idenix. A Rock Springs e a Brookside estão certamente familiarizados com os
outros jogadores na arena da RaNA.
"Vê nomes aqui que
tenham estado envolvidos em outras empresas terapêuticas de ARN, outras peças
de terapia genética, outras empresas de biotecnologia em fase precoce",
disse Renaud.
Renaud ingressou na empresa
em dezembro. Uma decisão inicial, quando a empresa estava clamando por mais
espaço no laboratório, foi de se comprometer com um contrato de arrendamento a
longo prazo no espaço anteriormente ocupado pela Vertex Pharmaceuticals (EUA).
Foi quadruplicar o tamanho dos laboratórios anteriores de RaNA.
Esse compromisso, feito num
mercado em brasa para a imobiliária biotecnológica em torno da Kendall Square em
Cambridge (EUA), foi feito antes da RaNA ter conseguido este financiamento de
55 milhões de dólares. Renaud disse que não estava preocupado: ele estava
confiante de que iria angariar o dinheiro durante estes tempos de bonança. Os
investidores que normalmente investiam em empresas públicas, como os já
mencionados, têm-se voltado para empresas privadas como a RaNA na busca de
pechinchas que podem comprar hoje e vender mais tarde, quando vão a público. A
recuperação no ambiente de financiamento permitiu a pequenas empresas, como a RaNA,
esticarem-se para além de fazer apenas uma tecnologia, ou um único candidato a
fármaco.
"Há uma série de
benefícios na construção de uma pequena empresa de biotecnologia num ambiente
muito positivo", disse Renaud.
Big Pharma – alcunha da
indústria farmacêutica
(artigo traduzido)
Fonte: http://www.forbes.com/sites/luketimmerman/2015/07/23/merck-joins-55m-wager-on-rana-therapeutics-pushing-frontier-with-rna-medicines/ e http://www.forbes.com/sites/luketimmerman/2015/07/23/merck-joins-55m-wager-on-rana-therapeutics-pushing-frontier-with-rna-medicines/2/
Comentários
Enviar um comentário