Stress oxidativo envolvido na patogénese da ataxia de Friedreich
Investigadores da Universidade
da Califórnia, em Davis (UC Davis, Davis, CA, EUA), conduziram recentemente um
estudo de avaliação sobre os dados relativos à ligação entre o stress oxidativo
e as doenças mitocondriais hereditárias como a ataxia de Friedreich. O estudo
foi publicado na revista Free Radical
Biology and Medicine e tem por título "O stress oxidativo nas doenças
mitocondriais hereditárias".
As doenças mitocondriais são
distúrbios raros causadas por mutações do ADN em genes expressos
mitocondrialmente. As cinco doenças mitocondriais mais comuns são: ataxia de
Friedreich, neuropatia ótica hereditária de Leber (LHON), síndrome de Leigh
(LS), encefalomiopatia mitocondrial, acidose láctica, episódios semelhantes aos
de um AVC (MELAS) e epilepsia mioclónica com fibras esfarrapadas de vermelho
(MERRF). Atualmente, não existem terapias eficazes ou aprovadas para qualquer
uma destas condições.
As mitocôndrias são
organelos pequenos consideradas as potências das células onde a energia para o
corpo é produzida. As mitocôndrias são uma fonte de espécies reativas ao oxigénio
(ROS), que, quando presente em níveis elevados, podem induzir danos significativos
às estruturas celulares. Este desequilíbrio entre a produção de ROS e sistemas
antioxidantes é referido como stress oxidativo. Neste estudo, os investigadores
da UC Davis analisaram o envolvimento do stress oxidativo na patogénese das
doenças mitocondriais mais comuns.
A ataxia de Friedreich, em
particular, é uma doença neurodegenerativa hereditária rara caracterizada pela
lesão progressiva do sistema nervoso com degeneração da medula espinal e nervos
periféricos que leva a fraqueza muscular, perda sensorial, défice de equilíbrio
e falta de coordenação dos movimentos musculares voluntários. A doença é
causada por uma mutação num gene chamado frataxina expresso mitocondrialmente
(FXN) que leva a um defeito na expressão da proteína frataxina. O início da
doença é geralmente durante a infância ou a adolescência e leva à incapacidade
progressiva, a dependência de uma cadeira de rodas e esperança de vida
reduzida.
Estudos utilizando células
de pacientes com ataxia de Friedreich e animais modelo demonstraram que as
respostas antioxidantes para proteção contra as ROS são deficientes no contexto
da doença. Além disso, os pacientes exibem um aumento nos níveis de ROS e danos
oxidativos. O stress oxidativo, por si só pode promover a inflamação, que por
sua vez pode causar o stress oxidativo, gerando um ciclo vicioso que finalmente
provoca a morte celular.
De acordo com os autores, o
modelo atual da ataxia de Friedreich, é que o decréscimo nos níveis da proteína
frataxina conduz a uma redução da prote0ção antioxidante, desencadeando efeitos
neuro-inflamatórios e neurodegenerativos que resultam em sintomas clínicos da
doença.
Em termos de opções
terapêuticas, não há nenhum tratamento específico que possa interromper a
progressão da doença em pacientes com ataxia de Friedreich, embora um número de
medicamentos estejam atualmente a ser testados. Dada a evidência do
envolvimento do stress oxidativo na patogénese da doença, estratégias
terapêuticas com base em antioxidantes (como idebenone, um análogo da coenzima antioxidante
Q10) estão a ser avaliadas. As estratégias terapêuticas destinadas a aumentar a
expressão da frataxina também estão a ser testadas.
Na revisão, os autores
concluíram que há provas que sustentam o envolvimento do stress oxidativo em
todas as cinco doenças mitocondriais analisadas, mas que esta ligação é
especialmente observada na ataxia de Friedreich. A equipa sugere que, dado o
facto de que o stress oxidativo está subjacente à patogénese das doenças
mitocondriais, terapias antioxidantes devem ser consideradas como uma
estratégia terapêutica potencial, especialmente para pacientes com ataxia de
Friedreich.
(artigo traduzido)
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