Distúrbio do comportamento do sono ligado a diferentes tipos de ataxia
Um novo estudo foi publicado
recentemente na revista Parkinsonismo e
Doenças Relacionadas, revelando que os distúrbios do sono podem ser úteis
na diferenciação dos diferentes tipos de ataxia. O estudo, intitulado
"Diagnóstico Diferencial da ataxia esporádica de início na idade adulta: o
papel do distúrbio do comportamento do sono REM" e foi realizado por investigadores
do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (Brasil) e Centro de
Doenças do Movimento, Hospital Western Toronto (Canadá).
A ataxia é definida como um
sinal neurológico caracterizado pela falta de coordenação dos movimentos
musculares voluntários. Os indivíduos com esta doença sentem dificuldades na coordenação
e equilíbrio. A ataxia esporádica corresponde ao desenvolvimento dos sintomas da
ataxia durante a vida adulta em indivíduos sem história familiar da doença. A ataxia
pode ser difícil de diagnosticar e pode ser ou cerebelosa, se apenas o cerebelo
é afetado, ou cerebelosa plus, se for acompanhada de recursos extra-cerebelosos
como fraqueza, rigidez, ou espasticidade dos músculos, demência ou neuropatia
(disfunção dos nervos periféricos).
A ataxia esporádica de
início na idade adulta de etiologia desconhecida (idiopática) compreende um
grupo de doenças não hereditárias degenerativas, para as quais a causa é
desconhecida. Neste estudo, os investigadores realizaram uma análise retrospetiva
em 50 pacientes brasileiros com ataxia esporádica de início na idade adulta, que
foram acompanhados regularmente durante um período de até 21 anos, para avaliar
se o seu diagnóstico foi mantido ou se ele evoluiu para uma forma cerebelosa de
atrofia dos sistemas múltiplos.
Os investigadores avaliaram
dados clínicos, neurológicos, genéticos e laboratoriais dos 50 pacientes
adultos envolvidos no estudo. Foi dada especial atenção ao facto de distúrbios
do sono como estes terem sido relatados como tendo uma alta prevalência entre
os pacientes com doenças neurodegenerativas.
Usando testes genéticos, a
equipa descobriu que todos os 50 pacientes deram negativo para doenças atáxicas
como a ataxia de Friedreich, o síndroma de tremor-ataxia da permutação do X
frágil (FRXTAS) e vários tipos de ataxia espinocerebelosa. Um total de 48% dos
pacientes foi diagnosticado com atrofia dos sistemas múltiplos e os 52%
restantes com ataxia esporádica de início na idade adulta. Curiosamente, o
distúrbio do comportamento do sono REM (movimento rápido dos olhos), um
distúrbio do sono em que os indivíduos agem fisicamente perante sonhos vívidos
com sons vocais e movimentos dos membros, muitas vezes violentos, foi
diagnosticado em 46% dos pacientes, sendo relatado em 83,3% dos pacientes com
provável atrofia dos sistemas múltiplos e em 11,5% daqueles com ataxia
esporádica. Os resultados sugerem que o diagnóstico de distúrbio do
comportamento do sono REM pode ser útil na diferenciação entre atrofia dos sistemas
múltiplos e ataxia esporádica de início na idade adulta.
A equipa concluiu que de
todos os pacientes com ataxia esporádica de início na idade adulta analisados,
quase metade evoluiu para atrofia dos sistemas múltiplos e que a prevalência de
distúrbio do comportamento do sono REM em pacientes com atrofia dos sistemas
múltiplos foi significativamente elevada. Os autores sugerem que o distúrbio do
comportamento do sono REM poderia representar uma ferramenta complementar na
diferenciação entre os diferentes tipos de ataxia.
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