A Saúde não Mente: Incoordenação Motora ou Ataxia


Ana Mesquita
Caros leitores esta semana o “Saúde, não Mente” aborda dois temas: a incoordenação motora ou ataxia e a perigosidade das caminhadas de longo percurso, conforme prometido na última rúbrica de Desporto.
Diz-se que um doente tem incoordenação motora ou ataxia quando, ao realizar o movimento, o faz de modo descoordenado, desajeitado ou descontínuo. Esta taxia resulta, fundamentalmente de lesões do cerebelo, dos nervos e dos cordões posteriores da medula espinhal. As lesões do cerebelo podem ser causadas, com maior frequência, de acidentes vasculares, tumores, lesões de esclerose múltipla, entre muitas outras. A lesão de nervos e cordões posteriores da medula espinhal, que conduzem a sensação de posição e movimento de segmentos do corpo. Neste caso, o que acontece é que se a pessoa não recebe corretamente a informação, em cada momento, da posição relativamente aos segmentos do corpo, também não pode comandar corretamente os seus movimentos. Esta variação prejudica a sensibilidade propriocetiva.
A incoordenação motora é notada no modo como o paciente executa a marcha. Esta apreciação é realizada de forma muito simples, num exame neurológico, provas de dedo no nariz e calcanhar-joelho e a prova de Romberg. Qualquer delas é executada com os olhos abertos e fechados e com a observação da marcha, por parte do profissional.
O exame neurológico permite distinguir se ataxia é por lesão do cerebelo ou por defeito de sensibilidade postural. Na ataxia por defeito da sensibilidade postural, não se encontra defeito dos movimentos oculares nem disartria, os reflexos osteotendinosos estão abolidos e há defeito da sensibilidade vibratória e do sentido da posição nos dedos. Os doentes com defeito propriocetivo têm a marcha deteriorada nas provas de coordenação motora, enquanto os doentes com lesões do cerebelo, o desempenho nestas provas é idêntico com os olhos abertos e fechados.
Já vimos que através da observação do movimento, pode identificar-se a anomalia ou patologia. Assim, o modo como as pessoas andam, revela algumas características, veja alguns os exemplos:
Marcha Hemiplégica – é um andamento a dois tempos, um tempo mais rápido para um lado e um tempo mais lento por o lado (hemiparético);
Marcha Parkinsónica – o doente parkinsónico anda com o corpo ligeiramente curvado para a frente, executa passos pequenos e rápidos, como se evita-se cair para a frente.
Marcha Atáxica – estes doentes têm os pés afastados, a sua marcha tem alguma similitudes com a de um bêbedo, uma vez que não conseguem levar os seus pés a executar os passos com precisão, pousam um pé mais à frente e o outro mais ao lado, sendo cada passo diferente do outro.
Marcha nas doenças musculares – está de acordo com os grupos musculares afetados. Na diminuição da força músculos da cintura pélvica, o doente anda balançando a bacia para um lado e para o outro, a esta marcha subintitula-se marcha de pato. Se a esta se juntar, fraqueza dos extensores da coluna, o doente desenvolve lordose lombar e anda com o corpo inclinado para trás. Na fraqueza muscular da quadrilha, há encurtamento dos tendões de Aquiles e a marcha é na ponta dos pés.
Devido a todos estes fatores anteriores, vimos que o tipo de locomoção afeta a saúde, veja o caso das quedas, que são frequentes no desenvolvimento enquanto crianças, mas que em pessoas de idade podem acarretar consequências graves, como fraturas no Úmero, punho, bacia e anca. Chegando a este ponto, percebe o segundo tema da rúbrica: os perigos da caminhada.
Hoje aflora-se o tema das caminhadas, tão explorado por todos, que saltam à vista, constantemente, os cartazes a convidarem para participarem nas caminhadas.
Os fatores de risco são enormes, para as pessoas que não estejam preparadas para as ditas caminhadas. Antes de iniciarmos estas “maratonas”, devemos ter sempre atenção a nossa saúde muscular e óssea, as vias aéreas e a efetividade da oxigenação.
Ao sentir uma diminuição da força muscular e uma fadiga anormal é sinal que algo está mal, e com este tipo de atividades exageradas por tempo e por distância, em regra piora os sintomas.
Com a idade, a força muscular diminui, assim se observarmos determinadas posturas e atitudes, vemos os grupos musculares debilitados, por exemplo se a pessoa tiver os eretores da coluna inclinados, um grande nadegueiro ou os músculos da coxa enfraquecidos vai andar com o corpo inclinado para trás, ficando com uma marcha semelhante à das mulheres com gravidez avançada.
Compete aos educadores e preparadores físicos uma avaliação física, antes de porem as pessoas a realizarem longos percursos. O Colégio Cientifico Americano de Medicina Desportiva diz que devemos caminhar 30 minutos diários e não fazer as “maratonas“ de 15Km.
Realizar caminhadas e praticar exercício de forma consciente deve de ser a principal preocupação de todos os nós! Colocarem profissionais capacitados academicamente, para tais tarefas deverá ser uma prioridade de todas as instituições públicas.
Termino o tema dedicando-o ao meu querido amigo Humberto Salgado.
Não se esqueça que a rúbrica de “Saúde, não Mente” é realizada por uma equipa de profissionais, de várias áreas de formação, sempre com a sua saúde e bem-estar como pano de fundo.
Qualquer dúvida ou sugestão, estaremos ainda disponíveis no: saude.nao.mente@gmail.com.

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