Ataxias Hereditárias


Doenças relacionadas com a coordenação de carácter hereditário

 

Ataxia é um termo científico para falta de jeito, não devido a perda sensorial ou fraqueza. A ataxia é, frequentemente, devido a problemas no cerebelo, a parte do cérebro que lida com a coordenação.

Para imaginar o que é que a ataxia parece, imaginemos alguém alcoolizado. Mesmo que não estejam com tonturas, eles tropeçam quando andam e mostram-se inaptos com as suas chaves, quando tentam abrir uma porta.

Enquanto que muitas coisas, como o álcool, podem causar ataxia, algumas pessoas nascem com características genéticas que conduzem à ataxia, sem culpa alguma. Tal é raro, mas pode ser extremamente perturbador para a pessoa afetada.

 

Ataxias neurodegenerativas

Algumas pessoas “herdam” uma doença que leva à degeneração de regiões do cérebro responsáveis pela coordenação. Apesar de haver muitas causas genéticas e síndromas, pode ser difícil distinguir estas doenças sem o devido teste genético.

 

Ataxia autossómica dominante

As ataxias autossómicas dominantes são transmitidas de uma forma algo óbvia: normalmente, há mais que um familiar direto com um problema semelhante. As ataxias espinocerebelares são as ataxias autossómicas dominantes mais comuns. Há mais de trinta tipos diferentes de ataxias espinocerebelares, cada uma com um espectro de sintomas ligeiramente diferente. Outras formas menos comuns de ataxia autossómica dominante, incluem a Atrofia Dentatorubro-Palidoluysiana (DRPLA) , que é mais comum no Japão, e a doença de Príon conhecida como Gerstmann-Straussler-Scheinker.

 

Ataxia autossómica recessiva

As ataxias autossómicas recessivas podem ser mais difíceis de diagnosticar que as doenças autossómicas dominantes, já que as pessoas afetadas geralmente não têm pais afetados.

As formas mais comuns de ataxia autossómica recessiva são a Ataxia de Friedreich e a Ataxia-Telangiectasia. Outras formas menos comuns incluem o Xeroderma Pigmentoso e o Síndrome Cockayne.

 

Ataxias ligadas ao X

Algumas formas de ataxia apenas estão ligadas ao cromossoma-X. Estas mutações são mais frequentemente vistas no sexo masculino. Como os homens só têm um cromossoma X, se este é defeituoso, não há maneira de outro cromossoma X compensar. Estas doenças são raras e incluem Síndrome de X-Frágil, Anemia sideroblástica ligada ao X com ataxia e Adrenoleucodistrofia Ligada ao X.

 

Ataxia Mitocondrial

As mitocôndrias são as partes das células responsáveis por importantes passos no metabolismo, o que fornece energia à célula. O ADN mitocondrial está separado do resto de ADN do corpo e é herdado da mãe.

O Síndrome de Leigh é uma doença mitocondrial que pode causar ataxia grave assim como muitos outros problemas, incluindo convulsões, fraqueza e alterações na visão. Outras doenças mitocondriais podem causar ataxia e mioclonia, que é um movimento muito rápido e involuntário do músculo. Estas doenças incluem o Síndrome de MELAS (miopatia mitocondrial, encefalopatia, acidose láctea e episódios semelhantes a um AVC) e o Síndrome de MERRF (epilepsia mioclonica com fibras vermelhas esfarrapadas).

 

Ataxia devido a erros inatos do Metabolismo

O corpo necessita de combustível e tem que o processar de certas maneiras. Às vezes uma criança nasce com uma mutação que impede a transformação dos alimentos em energia útil. Estas mutações podem causar todo o tipo de problemas, incluindo ataxia.

Apesar de os erros inatos do metabolismo serem raros, as doenças são de uma variedade ampla. As ataxias que vão e vêm podem resultar de desordens aminoácidas, tais como desordens com o ácido isolvalerico ou a doença de Hartnup. Outros problemas podem surgir derivados de mutações no ciclo da ureia. O atraso no desenvolvimento é comum entre estes pacientes. Uma dessas doenças, a Deficiência da omitina transcarbamilase, também pode ser encontrada em mulheres mais velhas, apesar da ligação ao X. Químicos conhecidos como piruvato e lactato também podem ser afetados pelas mutações, resultando em ataxia, convulsões e deficiência intelectual.

O diagnóstico destas doenças metabólicas é normalmente feito através de testes bioquímicos, depois de as anormalidades serem notadas. Ainda que o problema subjacente não possa ser reparado, por vezes os sintomas podem ser tratados com dietas modificadas.

 

Ataxias Progressivas

As ataxias metabólicas acima discutidas têm sintomas que vêm a depender de coisas como dietas. As ataxias também normalmente surgem numa idade jovem. Em contraste, as ataxias progressivas normalmente surgem no final da infância, com sintomas que, implacavelmente, vão piorando com o tempo, ao invés de diminuírem. Muitas dessas doenças derivam dum problema no armazenamento de diferentes químicos no corpo. Exemplos incluem a Doença de Niemann-Pick tipo C, a Doença de Wilson, a Leucodistrofia Metacromática, a Lipofuscindose Ceróide Neuronal, deficiências na hexosamindase e Adrenoleucodistrofia. Mais uma vez, não há cura para a maioria destas doenças, mas algumas medidas podem travar a progressão na Doença de Wilson. Outras ataxias tratáveis devido ao armazenamento de defeitos, incluem a Ataxia com deficiência da vitamina E, a Xantomatose Cerebrotendinosa (CTX) e a Doença de Refsum.

 

Outras ataxias de carácter hereditário

Algumas formas de ataxia não são devidas a processos neurodegenerativos ou a desordens metabólicas. As células nervosas conduzem eletricidade através de moléculas especiais designadas de canais de iões, e se os genes relacionados com esses canais de iões são alterados, então problemas como a ataxia, convulsões ou enxaquecas podem surgir. Este é o caso das ataxias episódicas, que são hereditárias de uma forma autossómica dominante, e em doenças raras, tal como a Doença de Unverricht-Lundberg.

Como se pode ver, mesmo após determinar que uma ataxia é de origem genética, há muito mais trabalho a fazer para diagnosticar e tratar a causa exata. Um médico de clínica geral normalmente não tem conhecimentos suficientes sobre estas doenças raras, de maneira a providenciar a ajuda adequada. Até um neurologista pode encaminhar alguém com preocupações sobre ataxias hereditárias, a um especialista em desordens do movimento. Um conselheiro genético também pode ser útil, para discutir o risco de gerações futuras terem ataxia.

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