Terapias com células estaminais mostram perspetivas para doenças neurológicas graves


Terapia com células estaminais – Abordagens promissoras – Neurologistas alertam para cuidadores/fornecedores sem escrúpulos

De acordo com especialistas no Encontro da Sociedade Neurológica Europeia em Praga (República Checa), as descobertas das investigações correntes dão razão à esperança em que tipos diferentes de células estaminais podem abrir novas perspetivas na terapia de doenças neurológicas graves, tais como AVC (acidente vascular cerebral), Parkinson e Esclerose Múltipla. Mas dado as muitas questões ainda por resolver, os neurologistas alertam para as perigosas promessas de cura por parte de cuidadores/fornecedores sem escrúpulos.
“Existe hoje um n.º de descobertas altamente promissoras, que podem alicerçar o caminho para tipos completamente novos de terapias com células estaminais para doenças neurológicas graves,” disse o Prof. Dr. Gianvito Martino (Hospital San Raffaele, Milão, Itália), no 22.º Encontro da Sociedade Neurológica Europeia, em Praga. “Mas precisamos de mais tempo para clarificar as muitas questões por resolver, referentes à segurança e benefícios. De momento, há uma mensagem central para os pacientes neurológicos: estas terapias estão ainda numa fase experimental.”

“É urgente avisar os pacientes afetados para não gastarem grandes quantidades de dinheiro para se submeterem a tratamentos para Parkinson, Esclerose Múltipla ou AVC, que ainda não foram devidamente testados.” O Prof. Martino continuou para dizer que praticantes especializados em países na e fora da Europa estão a seduzir pessoas gravemente doentes com falsas esperanças de curas, apesar das terapias não estarem ainda aprovadas e as questões com a segurança não terem ainda sido clarificadas, tal como a possibilidade da implantação de células estaminais poder causar cancro ou infeções. O mercado é lucrativo. Os especialistas estimam que alguns biliões de dólares americanos são gastos anualmente, em todo o mundo, em tratamentos com células estaminais.

“Apesar de todos os avanços, ainda não chegámos ao ponto de, na neurologia, o uso de células estaminais fazer parte das rotinas clínicas diárias. Os legisladores são chamados a proteger as pessoas doentes do turismo celular estaminal e de cuidadores/fornecedores sem escrúpulos. Se os pacientes se submetem a um tratamento, devem certificar-se de que o fazem como parte de um estudo clínico sério, aprovado pelas entidades respetivas.” Foi apresentado um número destes estudos no Encontro da Sociedade Neurológica Europeia, em Praga, onde cerca de 3.000 neurologistas de todo o mundo partilham as últimas descobertas nos campos respetivos.
AVC (acidente vascular cerebral): Células estaminais neurais melhoram funções sensoriomotoras 

De acordo com investigadores britânicos, os pacientes no ensaio Investigação Piloto de Células Estaminais num AVC (PISCES) estão a ser tratados, pela primeira vez, através de um novo tipo de procedimento. Envolve a implantação de células estaminais neurais na área do AVC, para acionar a regeneração das células nervosas lesionadas. Os pacientes vão depois ser monitorizados intensivamente, durante dez anos.

As células estaminais neurais são células que se podem autorregenerar através da divisão celular e diferenciarem-se em variados tipos de células. Em estudos em animais, as células fabricadas num processo de engenharia genética especial, por uma equipa de investigação em Glasgow (Escócia), provaram ser eficazes. Ratazanas que sofreram um AVC e que tiveram, como resultado, funções sensoriomotoras debilitadas, mostraram melhorias substanciais após várias semanas.
Parkinson: Fibroblastos para o cérebro

Os investigadores ainda não chegaram ao ponto de aplicação em seres humanos, para o tratamento da doença de Parkinson. Mas uma equipa de especialistas de Milão pôde anunciar em Praga avanços nesta área, também. O objetivo da terapia com células estaminais em pacientes com Parkinson é o de reativar a produção debilitada de dopamina no cérebro, através do implante de células neurais. Os investigadores italianos desenvolveram agora um método de contornar a controvérsia ética à volta do uso de células embrionárias para produzir células neurais.
Através da adição de três proteínas especiais, os investigadores conseguiram converter células de tecido conetivo (fibroblastos) em células neuronais dopaminérgicas (iDAN), ou seja, no tipo de células produtoras de dopamina que estão em falta no cérebro dos pacientes com Parkinson. Num próximo passo, os investigadores vão ter que determinar como melhor transplantar estas células para as áreas do cérebro correspondentes.

 Esclerose Múltipla: Duplicar o efeito
O Prof. Martino reportou no Encontro da Sociedade Neurológica Europeia, em Praga, que já estão em marcha alguns estudos em humanos, sobre a Esclerose Múltipla. “As terapias celulares são consideradas uma forma muito promissora de induzir a regeneração das camadas de mielina nas fibras nervosas lesionadas quando a Esclerose Múltipla ocorre. As células estaminais e progenitoras de origem neural e mesenquimal têm provado ser ferramentas adequadas neste contexto.”

De acordo com o especialista, estudos atuais mostram que a maneira como elas funcionam é mais diversa do que originalmente se pensava: “Temos observado que em pacientes com Esclerose Múltipla, esta forma de célula estaminal não só substitui células destruídas, como também tem um efeito adicional através da libertação de moléculas neuro protetoras.”


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Foi descoberto que as proteínas específicas e não-específicas, ligadas ao ARN, são fundamentalmente semelhantes

Ataxia cerebelosa, neuropatia e síndrome de arreflexia vestibular: uma doença lentamente progressiva com apresentação estereotipada