Marcas do tempo
Eu me policio frequentemente, com
medo de ficar com aquele jeito espantado, meio alienado, como meu irmão e meu
pai. Já não tenho a meiguice da meninice e nem olhar matreiro da juventude e da
adolescência.
Olho-me no espelho e vejo as marcas
do tempo no meu rosto: mais uma ruga me apareceu, olhar modificado por conta da
questão de saúde: estou diferente. A Doença de Machado Joseph (DMJ) vai
modificando o olhar da gente, o semblante.
Eu me policio frequentemente, com
medo de ficar com aquele jeito espantado, meio alienado, como meu irmão e meu
pai. Já não tenho a meiguice da meninice e nem olhar matreiro da juventude e da
adolescência.
Não posso dizer que não vivi
aventuras na minha vida, mas olhando agora, bem de longe do meu passado, no
alto dos meus 54 anos, e percebo que queria ter vivido mais, com mais
intensidade.
Minhas experiências daquela fase
foram inocentes e desprovidas de malícia e às vezes fico comparando com o
que vivem os jovens de agora. Tive minhas vivências próprias de cada fase
da idade, mas sinto ainda como se faltasse muito para viver.
Quero viajar, conhecer mundos,
pessoas, viver outros momentos da idade de agora. Acho que se eu tiver que ir
agora não iria completa, sem ter vivido tudo o que eu queria e aproveitado a
vida muito mais. Se pudesse ter uma chance de fazer essa reivindicação, eu
pediria. Se pudesse voltar, queria voltar para dar continuidade aos projetos
idealizados, sonhados, desejados.
Fui almoçar no shopping hoje e
encontrei uma colega da pré-adolescência, com a filha. Na década de 1970 ela ia
passar as férias na casa da família, em União e se pôs a perguntar por todo
mundo, queria saber das pessoas, dos nossos amigos e conhecidos, sobre o que
fizeram da vida.
Engraçado esses momentos. Saí dali
pensando em como a vida vai distanciando a gente e nos separando das
pessoas e muitas vezes de tudo. Cada um vai procurando seu caminho: alguns se
perderam, outros foram muito felizes em suas escolhas.
Eu não posso dizer que seja infeliz
nas minhas e se me coloco às vezes pensativa e interrogativa é porque eu penso
que eu poderia estar em situação melhor.
Dizem que a gente colhe o que
planta e que nossa vida é fruto de nossas escolhas, mas eu não escolhi ser
herdeira de um problema hereditário que vai nos limitando a cada dia e nos
impossibilitando os movimentos, ninguém escolhe isso para sua vida.
É um problema que vai limitando
você com um tempo, às vezes rapidamente, em outras situações mais lentamente.
Tem gente que o problema chega com mais intensidade e a pessoa se entrega
com mais facilidade, mas eu não quero me entregar, apesar das limitações.
Eu quero e preciso viver
ainda bons momentos na vida, ter o que compartilhar com outros, escrever muito
e falar dos meus sentimentos; ter boas atitudes, continuar amando meus animais
e procurar ser melhor a cada dia. Boa tarde!
FONTE: http://www.tribunahoje.com/blog/9861/olivia-cerqueira/2014/08/30/marcas-do-tempo.html
FONTE: http://www.tribunahoje.com/blog/9861/olivia-cerqueira/2014/08/30/marcas-do-tempo.html
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