Investigadores da UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles - CA, EUA) revelam reversibilidade da ataxia de Friedreich em ratos modelo

20/12/2017


Em crianças e adultos com ataxia de Friedreich, uma doença hereditária que causa danos ao sistema nervoso, uma perda de coordenação geralmente progride para fraqueza muscular e pode envolver visão, diabetes e outros problemas ao longo de vários anos. Até agora, imitar esses sintomas e progressão em ratos para estudos de investigação tem sido difícil.

Investigadores da UCLA, depois de desenvolver um rato modelo da ataxia de Friedreich que mostra sintomas semelhantes aos dos pacientes, descobriram que muitos dos primeiros sintomas da doença são completamente reversíveis quando o defeito genético ligado à ataxia é revertido. As novas descobertas, que ainda precisam ser replicadas em seres humanos, aparecem no jornal eLife.

"A maior parte da disfunção que estávamos a ver nos ratos foi reversível mesmo depois dos ratos apresentarem disfunção neurológica substancial", disse o Dr. Daniel Geschwind, professor de Neurologia e Psiquiatria da UCLA, e autor principal do novo trabalho. "Ficámos muito surpreendidos com como os ratos melhoraram desde que assumimos que esse grau de disfunção comportamental seria devido à perda de células"

A ataxia de Friedreich pode começar a causar sintomas na infância ou no início da idade adulta. Provoca uma perda de coordenação, ou "ataxia", que faz com que os pacientes tropeçam e cambaleiam, entre outros sintomas iniciais. A doença é conhecida por ser causada por uma mutação genética no gene FXN. A mutação leva a níveis reduzidos da proteína codificada pelo FXN, chamada frataxina. Apesar dos médicos poderem gerir alguns sintomas específicos, não há tratamentos atuais.

"A falta de tratamentos para a ataxia de Friedreich tem sido frustrante para muitos e tem sido, em parte, devido à falta de bons modelos animais da doença", disse Geschwind. "Havia realmente uma necessidade de um rato modelo para ajudar os investigadores a determinar as consequências da redução no corpo inteiro de frataxina".

No novo trabalho, Geschwind e colegas desenvolveram um rato no qual o gene FXN pode ser bloqueado por uma cadeia de ARN que é controlada por um antibiótico. Níveis mais elevados do antibiótico levam a mais bloqueio do gene e, portanto, menores níveis da proteína frataxina. Este sistema permitiu que os investigadores tivessem um controle estrito sobre os níveis de frataxina ao longo da vida do rato, deixando os ratos desenvolverem-se normalmente durante três meses antes de administrar antibióticos para reduzir os níveis de frataxina.

Após 12 semanas com níveis baixos de frataxina, o estudo descobriu que os ratos apresentam sintomas semelhantes aos observados em humanos com a doença, incluindo perda de peso, ataxia, costas curvadas e força muscular reduzida. Quando os investigadores deixaram de dar antibióticos aos ratos doentes, deixando os níveis de frataxina voltar ao normal, a maioria dos sintomas desapareceu.

Os resultados do estudo sugerem que "um pouco de disfunção que está a ser observada nos pacientes, nos primeiros anos de doença, representa uma disfunção neuronal reversível em vez de morte celular e perda de neurónios", disse Geschwind.

Os investigadores também usaram o rato modelo para estudar que outros genes e proteínas são imediatamente afetados por reduções na frataxina, ajudando a apontar o caminho para novos alvos dos medicamentos. Eles esperam continuar esta linha de trabalho, estudando as mudanças bioquímicas que ocorrem em conjunto com a ataxia de Friedrich. Eles também estão disponibilizando este modelo para laboratórios académicos e comerciais que já estão a estudar medicamentos que visem aumentar os níveis de frataxina em pacientes humanos. Nesses casos, o novo rato modelo pode ser usado para testar a eficácia dos medicamentos.

"Este modelo fornece uma nova via importante e potencial para o desenvolvimento terapêutico", disse Geschwind.


Traduzido para a APAHE em 22-12-2017, por Fátima d’Oliveira




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