Investigadores identificam via molecular que leva à perda neuronal, doença cardíaca em ratos com ataxia de Friedreich


  
Investigadores identificaram o mecanismo molecular através do qual a perda de frataxina, a proteína ausente na ataxia de Friedreich (AF), causa danos celulares levando à neurodegeneração, de acordo com um novo estudo com ratos.

Esta descoberta pode ser útil na conceção de novas terapias para o tratamento de pacientes com ataxia de Friedreich.

O estudo "Perda da frataxina ativa o ferro / Esfingolípido / PDK1 / Via Mef2 em mamíferos", foi publicado na revista eLife.

A ataxia de Friedreich é causada por mutações no gene que codifica a frataxina, prejudicando a sua produção nos neurónios e levando à perda neuronal e complicações cardíacas.

Em células normais, a frataxina contribui para a síntese de proteínas ferro-enxofre nas mitocôndrias, a fonte de energia celular. Os níveis baixos de frataxina limitam a produção de proteínas ferro-enxofre, o que está associado à redução da produção de energia, danos oxidativos, alteração do metabolismo do ferro e disfunção mitocondrial geral.

Apesar de saber que a produção de espécies reativas de oxigénio (ROS, moléculas que são produzidas como um efeito colateral da atividade das mitocôndrias, levando a danos oxidativos quando os níveis são muito altos) e prejuízo da produção de proteínas de ferro-enxofre estão associados à AF, os cientistas ainda não conhecem os mecanismos moleculares exatos dessa relação.

Usando técnicas laboratoriais, os investigadores eliminaram o gene da frataxina em ratos. Isto levou à acumulação de ferro no sistema nervoso e à perda neuronal no córtex cerebral dos ratos, mostrando que a perda de frataxina de facto leva a lesões neuronais graves.

A equipa também observou que uma das consequências desencadeadas pela perda de frataxina foi a produção de um grupo de moléculas de gordura, chamadas esfingolípides. Estas moléculas, então, levaram à ativação de duas proteínas, PDK1 e Mef2, que desencadeou neurodegeneração dois meses antes do início dos sintomas de AF em ratos.

Mais importante, os investigadores descobriram que as mesmas vias parecem ser ativadas em pacientes humanos com ataxia de Friedreich, também. Na verdade, eles descobriram que os níveis de esfingolipídes e a atividade da PDK1 também estavam maiores em amostras de tecido cardíaco de seis pacientes com AF.

Em conjunto, estes resultados sugerem que a via molecular do ferro/esfingolípido/PDK1/Mef2 é ativada em doentes com ataxia de Friedreich e pode, portanto, contribuir para a patologia desta doença.

"A inibição desta via pode não só suprimir a neurodegeneração, como também prevenir ou atrasar a cardiomiopatia, a principal causa de morte [na AF]", escreveram os autores.

"Em suma, essa via pode-nos fornecer alvos terapêuticos baseados em estratégias de oligonucleotídeo anti-sentido, uma opção que deve ser explorada", disseram.


(artigo traduzido)



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