Novo ensaio clínico revela promessa inicial para o tratamento da ataxia de Friedreich
A ataxia de Friedreich é uma doença hereditária e progressiva, que afeta o discurso e o movimento e que tipicamente ocorre durante a infância. Dentro de 10 a 20 anos os que dela padecem estão confinados a uma cadeira de rodas, antes de se tornarem totalmente incapacitados em fases posteriores. Aqueles com esta condição debilitante requerem apoio ao longo da vida e não há atualmente nenhum tratamento ou cura.
A doença é causada por ter níveis anormalmente baixos de uma proteína conhecida como Frataxina devido à inativação parcial do gene da Frataxina. No primeiro ensaio clínico do seu tipo, uma equipa baseada no College Imperial de Londres (Reino Unido), testaram a capacidade da nicotinamida (uma forma de vitamina B3) para aumentar os níveis de frataxina. A vitamina B3 é uma vitamina essencial mais normalmente conhecida pelo processamento das proteínas e da gordura no corpo. Ele também pode inibir a remoção das ‘marcas’ de ativação que ocorrem no gene da ataxia de Friedreich anormalmente silenciadas.
A equipa de investigação testou o efeito de doses crescentes de nicotinamida para determinar o quão bem foi tolerada e seu perfil de segurança. A nicotinamida foi geralmente bem tolerada e foi demonstrado o aumento dos níveis de proteína frataxina com os níveis encontrados em portadores sem sintomas da doença, quando tomado diariamente durante até 2 meses. Os pacientes receberam doses únicas e múltiplas de nicotinamida em doses muito mais elevadas do que o utilizado para a suplementação da vitamina.
“Estes resultados são muito encorajadores e, mais importante, oferecem a perspetiva de um futuro tratamento para esta doença incurável” - professor Richard Festenstein, professor clínico de Medicina Molecular
Publicado no The Lancet, a investigação foi conduzida pelo professor Richard Festenstein que é do Departamento de Medicina do College Imperial de Londres (Reino Unido) e um associado do Centro de Ciências Clínicas MRC. O ensaio é a continuação da investigação anterior do professor Festenstein, apoiada pela Ataxia UK e pelo MRC, que mostrou que um aumento nos níveis da frataxina, induzido pela nicotinamida, era realizável em células retiradas de pacientes e que o mecanismo envolvido na nicotinamida que atua sobre o gene que causa a ataxia de Friedreich 'liga-o de volta'. O resultado é um aumento na produção da proteína frataxina, e pensa-se que atua por 'abrir' o gene tornando-o acessível aos instrumentos que o ligam.
O professor Festenstein disse: "Estes resultados são muito encorajadores e, mais importante, oferecem a perspetiva de um futuro tratamento para esta doença incurável. São necessários mais estudos para determinar a segurança da nicotinamida em doses elevadas e administração a longo prazo e se pode aumentar os níveis de frataxina quando administrada por períodos mais longos. Então precisamos saber se isso vai evitar o agravamento do declínio clínico em pacientes com ataxia de Friedreich. O estudo também é emocionante porque fornece prova-de-conceito que o silenciamento do gene aberrante pode ser superado em humanos utilizando um 'modificador epigenético'. Isso abre o caminho para uma abordagem radical para outros distúrbios causados por um mecanismo similar".
O Dr. Vincenzo Libri, Chefe de Estudos Clínicos nas Instalações de Investigação Clínica Wellcome Trust/NIHR, disse: "Encontrar uma cura para a ataxia de Friedreich é o que cada investigador no campo quer. Estamos absolutamente encantados com os nossos resultados preliminares e a esperança do que oferece ao futuro dos pacientes com esta doença devastadora e às suas famílias. Os nossos resultados ajudam-nos a entender os elementos-chave de como a nicotinamida pode trabalhar e são importantes para traduzir a investigação do laboratório para um tratamento clínico. No entanto, dada a natureza exploratória da nossa investigação, os resultados devem ser interpretados com cautela e exigem justificações suplementares, a partir de estudos confirmatórios maiores antes que possamos fazer a nossa visão de uma cura, uma realidade".
A Dra. Paola Giunti da Universidade College de Londres (Reino Unido), que contribuíram para a conceção do ensaio e recrutamento dos pacientes através do Centro de Ataxia dirigido por ela no Hospital Nacional de Neurologia e Neurocirurgia (UCL/UCLH), disse: "Estamos muito animado com as perspetivas da nicotinamida potencialmente ser desenvolvida num tratamento, mas é importante lembrar que ainda é preciso realizar mais testes para confirmar a segurança durante mais tempo e ver se o aumento da frataxina realmente resulta em melhorias para os pacientes. Somos extremamente gratos a todos os pacientes que participaram neste estudo piloto importante".
Sue Millman, CEO da Ataxia UK, acrescentou: "Estamos muito orgulhosos de ter apoiado a ciência básica para este ensaio extremamente emocionante e avançar com a investigação para um ensaio humano com tais resultados iniciais positivos. Este estudo foi um esforço verdadeiramente colaborativo envolvendo instituições de ataxia em quatro países e uma série de outros organismos de financiamento, que reconhecem a importância do estudo. Precisamos agora de avançar no sentido de um ensaio maior que, esperamos, possa, eventualmente, ser traduzido num tratamento para os pacientes. Esse é o nosso objetivo."
Este estudo foi financiado pela Ataxia UK, em colaboração com outras três instituições de ataxia: Ataxia Irlanda, Associação Suíça da Ataxia de Friedreich e Associação Italiana dos Síndromas Atáxicos. A investigação também foi apoiada pelo Centro de Investigação Biomédica do Instituto Nacional de Investigações na Saúde (NIHR) com base no Fundo do NHS para Cuidados de Saúde do College Imperial College e College Imperial de Londres (Reino Unido) e o Consórcio Europeu para a Investigação Translacional na Ataxia de Friedreich. As opiniões expressas são as do autor(res) e não necessariamente as do NHS, o NIHR ou Departamento de Saúde.
Ataxia UK – associação de apoio às ataxias, sedeada no Reino Unido
Instalações de Investigação Clínica Wellcome Trust/NIHR (NIHR/Wellcome Trust Clinical Research Facility) – Fruto de uma colaboração entre a Universidade e os Hospitais de Birmingham (Reino Unido)
NHS (National Health Service) – Serviço Nacional de Saúde
(artigo traduzido)
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