Novo estudo avalia ferramentas para medir a progressão da doença em pacientes com ataxia de Friedreich


Um estudo publicado no Journal of Neurology, Neurosurgery and Psychiatry analisou o desempenho de quatro diferentes ferramentas na avaliação da progressão da doença em pacientes com ataxia de Friedreich. O estudo, intitulado "Um estudo de até 12 anos de seguimento de pacientes com ataxia de Friedreich, utilizando quatro instrumentos de medição" e foi liderado por investigadores do Centro de Investigação Genética para a Saúde Bruce Lefroy, do Instituto de Investigação Infantil Murdoch, na Austrália.

A ataxia de Friedreich é uma doença neurodegenerativa hereditária rara caracterizada pela lesão progressiva do sistema nervoso com degeneração da medula espinal e nervos periféricos que leva à fraqueza muscular, perda sensorial, défice de equilíbrio e falta de coordenação dos movimentos musculares voluntários. Os pacientes também podem experimentar deformidades esqueléticas, diabetes mellitus e cardiomiopatia hipertrófica (distúrbio no qual o músculo cardíaco torna-se anormalmente hipertrofiado). O início da doença é geralmente durante a infância ou adolescência e a desordem leva à incapacidade progressiva, à dependência de uma cadeira de rodas e esperança de vida reduzida.

A doença é causada por uma mutação num gene chamado frataxina (FXN), mais especificamente por uma expansão de guanina-adenina-adenina (GAA), repetições trinucleotídicas no primeiro intrão do gene FXN, o que leva a uma redução nos níveis de proteína frataxina. Os alelos FXN normais contêm menos de 36 repetições GAA, enquanto os alelos causadores de doenças têm repetições da expansão GAA que podem ir até 1700. Pensa-se que o comprimento da expansão da repetição GAA esteja associado diretamente com a gravidade da doença.

Não há atualmente nenhuma terapia capaz de retardar ou reverter a progressão da doença ataxia de Friedreich; assim, existe uma necessidade urgente de tratamentos e ferramentas capazes de avaliar com precisão a sua eficácia.

No estudo, os investigadores investigaram a progressão da doença ataxia de Friedreich com base nas alterações anuais nos resultados de quatro medidas clínicas: a Tabela de Avaliação da Ataxia de Friedreich (FARS), a Tabela de Avaliação de Ataxia Cooperativa Internacional (ICARS), a Medida de Independência Funcional (FIM) e o Índice de Barthel Modificado (MBI). O estudo foi realizado durante um período de 12 anos e avaliados 147 pacientes com ataxia de Friedreich. Os investigadores também avaliaram o impacto da idade de início e o comprimento da repetição GAA na progressão da doença e do desempenho dos resultados.

Os investigadores descobriram que, nos primeiros 20 anos após o início da doença, tanto os resultados da FARS, como da ICARS, exibiram uma mudança maior em comparação com os 20 anos subsequentes, que foram caracterizados por pequenas alterações no resultado médio. De acordo com os resultados da MIF e da MBI, porém, o valor médio continuou a agravar-se para além dos 20 anos após o início da doença. Os investigadores descobriram que os pacientes com um maior número de repetições GAA e um início precoce da doença experimentaram uma progressão da doença mais rápida e um declínio funcional associado, nos primeiros 20 anos após o início.

A equipa de investigação concluiu que os pacientes com ataxia de Friedreich com uma repetição GAA de maior comprimento e idade mais precoce no início da doença tiveram resultados maiores na FARS e ICARS e resultados menores na MIF e MBI, indicando um perfil mais grave da doença. A equipa sugere que medidas FARS e ICARS são mais sensíveis a alterações nos primeiros 20 anos após o início da doença e são mais adequadas para estudos de intervenção. Se forem necessários participantes de todas as fases da doença (incluindo para além de 20 anos de duração da doença) num estudo, então os autores acreditam que a MBI pode ser a melhor ferramenta para empregar.


(artigo traduzido)



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