Estudo em modelos celulares revela potencial estratégia terapêutica para a ataxia de Friedreich
Um estudo recente publicado
na revista Pharmacological Research
revelou uma nova potencial estratégia terapêutica contra a ataxia de Friedreich
em modelos celulares. O estudo é intitulado: "Segmentação do desequilíbrio
mitocondrial e peroxidação lipídica na ataxia de Friedreich" e foi
conduzido por investigadores do Instituto de Neurologia da UCL (Universidade de
Londres), no Reino Unido.
A ataxia de Friedreich é uma
doença neurodegenerativa hereditária rara caracterizada pela lesão progressiva
do sistema nervoso com degeneração da medula espinal e nervos periféricos que
leva a fraqueza muscular, perda sensorial, défice de equilíbrio e falta de coordenação
dos movimentos musculares voluntários. O início da doença é geralmente durante
a infância ou a adolescência e a doença leva à incapacidade progressiva, á
dependência de uma cadeira de rodas e esperança de vida reduzida. Atualmente,
não há nenhum tratamento eficaz aprovado para a doença.
A ataxia de Friedreich é
causada por uma mutação nu gene chamado frataxina (FXN) que leva a um defeito na
expressão da proteína frataxina. Esta proteína é encontrada na mitocôndria,
pequenas organelas celulares consideradas a "potência" das células,
onde a energia é produzida. A frataxina está envolvida na biogênese dos
aglomerados ferro-enxofre e homeostase do ferro.
A diminuição da expressão da
frataxina em pacientes com ataxia de Friedreich leva à acumulação de ferro na
mitocôndria e aumento da sensibilidade ao stress oxidativo, o que pode levar à
morte celular. Uma das abordagens de tratamento para a doença baseia-se na
redução da hipersensibilidade de espécies reativas de oxigénio (ROS), moléculas
que resultam do metabolismo do oxigénio e que podem induzir danos importantes às
estruturas celulares que desencadeiam a morte celular.
No estudo, os investigadores
avaliaram a possibilidade de utilizar os compostos de proteção contra a morte
celular. Foram testados dois tipos diferentes de compostos: ácidos gordos
poli-insaturados (dPUFAs), que protegem as células contra danos causados pela
degradação oxidativa dos lípidos (peroxidação lipídica), e indutores Nrf2, que
são capazes de desencadear a via antioxidante Nrf2. Os compostos foram testados
em duas linhas celulares diferentes de ratos modelos com ataxia de Friedreich,
YG8R e KIKO.
Os investigadores
descobriram que ambos os dPUFAs e os indutores Nrf2 foram capazes de evitar a
sensibilidade ao stress oxidativo, e subsequente peroxidação lipídica e morte
celular, nas duas linhas celulares testadas. A equipa também descobriu que as
duas linhas celulares têm um grau diferente de disfunção mitocondrial: onde
YG8R tem um comprometimento leve, KIKO parece sofrer um efeito mais grave. Os
autores sugerem que estas diferenças podem ser ligadas ao fundo genético
diferente das linhas.
Em conclusão, a equipa
propõe uma estratégia de tratamento da ataxia de Friedreich baseado no emprego
de compostos que impedem efeitos de oxidação, quer por reduzir a peroxidação
lipídica ou ativação da via antioxidante Nrf2. Os autores também enfatizam que
os dois ratos modelos celulares utilizados poderiam recapitular a variabilidade
fenotípica observada em pacientes com ataxia de Friedreich, e propõem que
poderiam representar ferramentas úteis para mais investigação sobre a doença.
(artigo traduzido)
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